O Touro e a Manivela

catoca catuca cum toco cutuca

a perna maluca passoca Aloá

pudera prudência pediu paciência

fugiu da demência, mas deixa pra lá

o touro sentado sentiu saturado

que tinham inventado um doce de luz

comeu desolado num choro abafado

pois, desanimado, viu que era cus-cus

a moça palhaça a troça sem graça

vestiu todo o medo que pode juntar

com terno e boné com a planta do pé

pisou na coragem e foi se deitar

malhado melado melindre malvado

é o touro sentado a regurgitar

por sobre o terreno o mesmo veneno

a mesma impureza que eu quis lhe roubar

filhotes do fato do nosso pecado

o céu invocado se põe a rugir

ficamos tementes barulho imponente

mas era somente pra gente sorrir

poeira palito palmito encorpado

conduz a canoa de creme de atum

o mar me confessa que já não tem pressa

de nos conduzir pra lugar algum

cala essa boca, ó árvore tola,

pega essa rola e enfia atrás

não se desanime se nada define

não se subestime que é cedo demais

tapa tapeira tapado troncudo

trepado na beira do aluvião

peixe peixeira pé da pedreira

pinto apanhado no meu alçapão

mais que a verruga, mais do que tudo

mais que o temor que amedronta o rochedo

o seu bebê é o mais lindo e, contudo,

não sei porquê ele dá tanto medo

mas a manivela estende o capricho

na corda me espicho como a solidão

que no ambulatório usou suspensório

para se acomodar no seu macacão

Rio, 06/05/2006