A Esquina da Aflição

O patamar, o piso.

Não faço improviso,

mas sei me basear na força da razão, oi!

O patamar, o piso.

Não quero aquele riso

que vai desnortear a minha atenção, oi!

O patamar, o piso.

Se o dente é o inciso,

melhor é não falar na obturação.

Eu não fiz, eu não quis. Eu não fiz, eu não quis.

O Ribamar, o brejo.

Vou muito além do Tejo.

Só quero viajar na minha inspiração, oi!

O Ribamar, o brejo.

A vida que invejo

de espetacular só tem a empolgação, oi!

O Ribamar, o brejo.

É puro sacrilégio

você se encabular com a própria opinião.

Eu não quis, eu não fiz. Eu não quis, eu não fiz.

O quebra-mar, o aço.

O esforço que não faço

só posso suportar com a sua aparição, oi!

O quebra-mar, o aço.

Perdi o meu compasso,

que só fui encontrar na esquina da aflição, oi!

O quebra-mar, o aço.

Se a vida é um fracasso,

não vale esperar pela absolvição.

Eu não fiz, eu não quis. Eu não fiz, eu não quis.

A Guiomar, o ninho.

Só vejo um caminho.

Quem não se desviar, não chega na estação, oi!

A Guiomar, o ninho.

Cadê o pergaminho

pra decodificar a esculhambação, oi!

A Guiomar, o ninho.

Não vou tomar o vinho.

Se o sangue não jorrar, não vale a redenção.

Eu não fiz, eu não quis. Eu não fiz, eu não quis.

Rio, 28/10/1975