Eu Sou...
Eu sou um grão de areia
Imperceptível nesta praia
Tão pequeno e insignificante
Que ninguém pode notá-lo
Eu sou a pétala da rosa
Que sem vida foi ao chão
Tão sem cor e entusiasmo
Que já não é bela à visão
Eu sou aquele peixinho
Triste sozinho, nadando no aquário
Tão assustado na água fria
Como a vida que se esvai no momento mortuário
Eu sou a borboleta amarela
Que livre tomou-se nas mãos do menino da cidade
Tornou-se peça de coleção e mais nada
Eu sou como Albert Einstein
Que de tão lúcido perdeu a razão
Tornando-se um nome
Nas grades da recordação
Eu sou a canção dos poetas
Nos poemas que escreveram
Sou a recordação de um sonho
Dos quais jamais viveram
Eu sou a chave do cárcere
Nas mãos do condenado
Na alma a liberdade-sonho
A certeza de estar do outro lado
Eu sou uma página da história
Que no capítulo errado recebeu uma homenagem
No dia que a felicidade profanada
Me vendeu esta passagem
Eu sou o silêncio do quarto escuro
A sílaba esquecida
A fuga imaginada
A guerra enternecida
Sou o Caos do universo
Na sua pupila dilatada
Sou a menina-mulher
Escondida em vestes brancas
Sou a dúvida e a certeza
A inocência e a clareza
Vislumbradas em razões santas
Sou o amor e o ódio
Gravados em um só peito
Sou a partida e a chegada
Encaradas do mesmo jeito
Só não sou quem vês
Só não sou quem esperava
Eu sou reticências...