Um trem para Nenhures
Quero pegar um trem
que me leve para Nenhures
bem lá depois da serra
onde o vento fez a curva.
O trem sai da Gare Central
à meia-noite em ponto
depois que o carrilhão da catedral
soar a última badalada.
O trem é puxado
por uma velha maria-fumaça
dessas que só existem
em novela de época.
Há um tênder
e um carro-restaurante
primeira-classe, segunda-classe
e vagão de carga.
Ao longo do seu percurso
passaremos por cidades adormecidas
selvas onde rugem tigres
e pontes sobre abismos colossais.
O maquinista apita nas curvas
e a locomotiva resfolega
ao acelerar nas retas
como um grande dragão mítico.
E ferromoças de sonho
sexies em seus tailleurs escuros
escarpins vermelhos e meias de náilon
oferecem barrinhas de cereal.
Somente lá em Nenhures
ao fim da estrada-de-ferro
desembarcarei do meu sonho
deixando você pelo caminho.
(28-08-2009)