Arado que lavra à flor da terra.
O que é o desejo?
Essa lâmina de dois gumes
Que vai lentamente cortanto o peito
Vai sangrando a fria entranhas.
O que é essa cobiça ?
Que vem com sua língua quente
Nos faz perder o pudor
E se entregar a insanidade.
Ó minha amada, diga-me:
Se eu te entregar meu corpo
Para te servir de alimento,
Seria o suficiente para acalmar
tua fome ?
Que te consome
Feito sodas cáusticas.
Ou te deixaria mais faminta ?
Quem é esse tirano ?
Que suplicia-me em noites em claro
Percorro minhas mãos inflamo
Sobre os insensíveis lençóis
E não encontro nada que me edifique.
Quem é esse infrator ?
Que viola meus anseios
Enquanto procuro teus seios,
Macio. Com a língua travada
Entre meus dentes cerrado.
Minha boca saliva, destila peçonha
Arde feito fogo e enxofre,
Febre.
Uma busca descomedida,
Assédio.
Produto químico césio
Derreti a matéria humana,
Doce caudo de cana.
O que seria da mórbida carne
que cobre os nossos ossos ?
Se não fosse a emorragia do desejo
Se não fosse esse tato
Esse querer doentio, que afundo fere-me
Estraçalhando tudo á frente
Dos olhos atônitos em êxtase.
Um dia te encontro
Travaremos uma luta renhida
Sem renúncia.
Enquanto você me apunhala
Eu te esfaqueio, te faço uma sangria
E bebo a vida que dê-te jorra.