Sintonia

Quero ser apenas uma sombra

Quem sabe um vulto já me baste ser

Sem memória, sem lugar, sem corpo

Quero passar assim despercebida

Sem ser aquela pobre sem destino

Ou a musa eternizada num poema

Sou só letras nem sequer existo

Sou água quando mais me quero

Uma fragrância que passou ligeiro

A sensação de se ter lembrança

Ou o sonho que nunca se realizou

Sou mesmo assim, algo passageiro

Que te mostra que o tempo dorme

No minuto em que estou aqui

No meio de absurdas horas

Dentro de um plano que não tem fim

Sou um nada consistente e real

Que navega entre o céu e o ar

Sou mar quando me amo inteira

Me faço assim para não parar

Sigo sem reflexo, sem nexo, sem eira

Dentro de mundos desconhecidos

Entre cabeças de uma lógica sem meta

Sou mesmo uma espécie comum

Do mais impuro fenômeno da natureza

Sintonia afinada entre o princípio e o fim.

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 06/08/2009
Código do texto: T1739531