Sintonia
Quero ser apenas uma sombra
Quem sabe um vulto já me baste ser
Sem memória, sem lugar, sem corpo
Quero passar assim despercebida
Sem ser aquela pobre sem destino
Ou a musa eternizada num poema
Sou só letras nem sequer existo
Sou água quando mais me quero
Uma fragrância que passou ligeiro
A sensação de se ter lembrança
Ou o sonho que nunca se realizou
Sou mesmo assim, algo passageiro
Que te mostra que o tempo dorme
No minuto em que estou aqui
No meio de absurdas horas
Dentro de um plano que não tem fim
Sou um nada consistente e real
Que navega entre o céu e o ar
Sou mar quando me amo inteira
Me faço assim para não parar
Sigo sem reflexo, sem nexo, sem eira
Dentro de mundos desconhecidos
Entre cabeças de uma lógica sem meta
Sou mesmo uma espécie comum
Do mais impuro fenômeno da natureza
Sintonia afinada entre o princípio e o fim.