Sem aplausos...
Um palhaço triste, de piadas velhas e graça pouca
Pobre saltimbanco, maltrapilho e roto
Arremedo de riso, esboço de sorriso
Sulcos de medos inquietantes, traçados no rosto
Seguido por uma bandinha dispersa
Que toca notas dissonantes e tortas
De uma música sem brilho nem estribilho
Tentando alegrar meus labirintos
E meus passos cansados e vacilantes sem destino
Sigo tosco, tentando encenar um resto de vida
Assistido por uma platéia fria
Com rostos de cera e olhares distantes
Inquisidores e julgadores de crimes presumidos
Num derradeiro ato, é assim que me sinto
É assim que me vejo nesse circo insano
Em que se transformou meu mundo
O tempo corroeu minha lona
E fez desabar meu picadeiro
Onde teimosamente ainda me equilibro
E aquela velha frase: “O palhaço o que é?”
Pra mim já não é mais...
Pressinto que não dá mais tempo...
Caminho nas sombras, pois a luzes me ofuscam
O que me empurra é o vento
Durmo ao relento, tremendo de frio
Iluminado pela lua, solidária e solitária
Talvez minha última companheira...
- Roberto Coradini {bp}