O acordo
Meia noite sossegada
Vejo o prado ruazinha.
Passa ao longo o fino vento
Que me leva o pensamento,
E faz gelar até a espinha.
Meia noite encruzilhada
Me pergunto quem caminha.
Vem a voz do firmamento
Vem com sopro grave e seco,
Faz gelar até a espinha.
– Quem és tu?
– Sou o preto Principá,
Vim das bandas do oeste
E teus sonhos vão comigo,
Vão comigo eu vim levar.
– Vais levar baú vazio,
Que a muito deixará,
Tão pesado que se preste,
Que se preste a te enganar.
– Vens contar história velha
Para alguém que faz trabalho
A arte antiga de enganar?
Te sugiro então trocar.
– Trocarei então contigo.
Quero um Dom, meu velho amigo.
Quero o dom de me expressar
Para nas dobras deste tempo
Minha letra aqui deixar.
– Feito!
Levo então aqui comigo
Da medula ao pensamento,
Levo a alma e deixo o corpo
Que é pra ti ficar com o sopro
Da inspiração por dentro.