a lua do homem
O homem foi a lua
Mas não visitou a alma do amigo
Não acariciou a aura de sua mãe
Não pressentiu a presença de quem se sente só
E abandonado
O homem foi a lua
Mas não matou a fome dos famintos
Não evitou as mortes daqueles que gritavam por socorro
Olhou o planeta azul
Imerso em nuvens e água
E não afogou toda mágoa que tinha no peito
O homem foi a lua
Deixou sua pegada para eternidade
Fria e distante do satélite
Mas não fez tudo que podia pelos que aqui
estavam
bem ao seu lado, na porta vizinha,
Na próxima rua,
Deixou trinta etiópias morrerem a cada ano.
Vinte e duas coréias e vietnãs reeditarem a guerra
no golfo pérsico
O homem foi a lua
Mas não conquistou a solidariedade
Não consolidou a dignidade
de qualquer ser humano
Não salvou as baleias
Não salvou a ave dodô
Não impediu o aquecimento global.
O homem é frio como a lua
E quando a conquistou
Ganhou de presente um coração de dragão
Ninguém o entende e quando irritado
Solta labaredas mortais e
transforma tudo em fuligem.