A donzela misteriosa

O nada...

Oh orgasmo misericordioso...

És-me a morfina patética

De quem padece de mal doloroso

Cuja causa é uma forma estética!

A melodia melancólica e cínica

Soa sádica e libidinosa

Durante o ocaso da noite musa!

Que espia a minha cena lírica!...

Dor que atormenta os santos vivos!

E que acompanha os malfeitores mortos!...

Queria não ouvir-te com meus ouvidos surdos!

Mas insistes mórbida em teus silvos!

Como as fadas da noite, assustam tanto...

E o meu juízo atinge o absurdo!...

Delírio...

Oh ninfa que os deuses amaram!

Quero-te tanto em meus braços...

Como amei-te em sonhos difusos...

Em que as tuas asas me envolveram...

Num orgasmo de supliciosos traços

Que te mostrei solitário e confuso!...

Imploro-te a tua certeza nua...

Quero-te em meus braços incrédulos...

Já sinto a impiedosa resposta tua...

Sem coração, deixas-me sem elo

Entre a fantasia e a piedade do belo...

Fico preso às trevas das florestas!

E falta-me as palavras de poeta!

Que me traz o consolo dos sábios profetas!...

Fantasia...

A vida, porém, espelha no oceano!

As cereias afogam piratas!

E os doendes povoam as matas!...

Mesmo na desolação dos anos!...

E, se o vazio me atormenta e corrói...

Eu ouço o choro da musa encantada!

Que, mesmo em depressão desgraçada...

Consegue fazer de um malandro, herói!...

E ainda chorando o lamento ébrio

Dos dias de amargura e tristeza...

Que os vinhos regaram insinuosos!...

Porém, olhai no campo os lírios!

Pois que têm uma resignada beleza...

Que a metáfora revela em tom precioso!...

Ulisses de Maio
Enviado por Ulisses de Maio em 12/07/2009
Reeditado em 29/09/2009
Código do texto: T1695630
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.