A donzela misteriosa
O nada...
Oh orgasmo misericordioso...
És-me a morfina patética
De quem padece de mal doloroso
Cuja causa é uma forma estética!
A melodia melancólica e cínica
Soa sádica e libidinosa
Durante o ocaso da noite musa!
Que espia a minha cena lírica!...
Dor que atormenta os santos vivos!
E que acompanha os malfeitores mortos!...
Queria não ouvir-te com meus ouvidos surdos!
Mas insistes mórbida em teus silvos!
Como as fadas da noite, assustam tanto...
E o meu juízo atinge o absurdo!...
Delírio...
Oh ninfa que os deuses amaram!
Quero-te tanto em meus braços...
Como amei-te em sonhos difusos...
Em que as tuas asas me envolveram...
Num orgasmo de supliciosos traços
Que te mostrei solitário e confuso!...
Imploro-te a tua certeza nua...
Quero-te em meus braços incrédulos...
Já sinto a impiedosa resposta tua...
Sem coração, deixas-me sem elo
Entre a fantasia e a piedade do belo...
Fico preso às trevas das florestas!
E falta-me as palavras de poeta!
Que me traz o consolo dos sábios profetas!...
Fantasia...
A vida, porém, espelha no oceano!
As cereias afogam piratas!
E os doendes povoam as matas!...
Mesmo na desolação dos anos!...
E, se o vazio me atormenta e corrói...
Eu ouço o choro da musa encantada!
Que, mesmo em depressão desgraçada...
Consegue fazer de um malandro, herói!...
E ainda chorando o lamento ébrio
Dos dias de amargura e tristeza...
Que os vinhos regaram insinuosos!...
Porém, olhai no campo os lírios!
Pois que têm uma resignada beleza...
Que a metáfora revela em tom precioso!...