RAY SANTOS MERCADOR DE ILUSÕES
RAY SANTOS MERCADOR DE ILUSÕES
( In memorium)
No palco de minha história
Fui protagonista
O teatro de revista
Revestia a minha arte
Artesão que fui
Do poeta fui à ponte
Da beira-mar a rima
Do Ribeirão o clima
Desratizei em um fato
Bradei em um ultimato
Ou Ray ou Ratos
Mambembe insubmisso
Pintei o sete
No setembro negro
Assessorei o grito
De um Ypiranga plácido
Habitei hereditárias
Capitanias de um
Feudo distante
Da abolição
Participei incólume
Tendo sido tudo
Na obscura ribalta
Mineiro e caçador
Vendedor de esmeraldas
Aleijei o Barroco
No sacro-santo longínquo
Perverti-me inconfidente
Mercarjandei vidas
Trilhei a veredas incertas
No café do ciclo
Circulei como mendigo
Sem um dândi superior
De Shakespeare fui autor
Na montagem sem enredo
Na luta de classe
Fui o medo
De Getúlio fui o anjo.
Sou Gregório e mato.
Entenda bem minha fala
Mais a ditadura cala
Exilado fui expulso
Do meu eu sem o crepúsculo
No meio da noite dia
O lusco-fusco
A escurecer o além vida
Na arte esta incompreendida
Busco origem fugida
A pureza irradia
O grito sem som
Busco na música o tom
Que rompe algoz
Na Cantilena, ainda hoje
Se ouve
Enfim sós.