Acordei na madrugada
Sem
testemunha  saí para pescar
Não levava iscas e fatídicos anzóis
A esperança era fardo leve no bornal.
Desci o rio, profundo, sem temer as águas
Embarquei em canoa frágil
... Não me aquebrantei!
Medo tive!
Das pedras... do desconhecido.
Em frente segui, parando em locais serenos,
em locas ou apenas deixando-me levar pela correnteza.
Colhi primaveras, 
Descortinei  invernos,
O sol de verão queimou-me mais que a pele,
Outonei na melhor idade
Desbanquei a saudade
E sentenciei o desejo de um mundo melhor.
Fui menestrel andarilho
Avistei da cidade as luzes filtradas pela longura que achava-me
Dormi sob as estrelas e tive como bússola o Cruzeiro do Sul
Margeei lugares observando as possibilidades 
Desci e subi o rio , lá onde a paz habitava.
Desatei os nós da intolerância
E as varas da violência
Tantos grilhões foram quebrados pela minha desejada solidão.
Antevi, qual profeta, que tudo era possível
Em comunhão a ceia era farta
E o frio não sobrepunha-se ao aconchego.
Desbravei as cachoeiras
Respingaram em mim
D’água, pingos violentos.
Na travessia, joguei iscas
De amor e bem-querer.
Às vezes a intolerância
Mordeu e quase foi içada.
Defeito de aprendiz.
O canto da sereia, é belo e quase enfeitiçou-me
Tantas são as armadilhas que seduzem
E a  travessia é menos árdua,
Chamariz para quem ainda não sabe
Os segredos de um pescador .
Pois é o que sou, aprendiz de pescador,
Pesco ilusões e as transformo
Em sonho e poesia, sopa de letras e fantasia.
Talvez um dia esse grito solitário se transforme numa bela melodia
Ou apenas vire samba.
Jogo a rede e espero
Não pretendo recolhê-la abarrotada, talvez um pouco por vez.
A cada dia a pescaria faz-se melhor.
Malha a malha vou içando,
Dos meus sonhos não costumo desistir
E assim vou resistindo às intempéries
Até encontrar do arco-íris, o pote.