QUASE
QUASE
J.B.Xavier
Em tudo o que sonhei do que vivi
No riso, cada passo, cada fase
De tudo passei perto, e do que vi
Fui sempre separado por um "quase"
Se um dia caminhei muito depressa
Se ao contrario, eu fui bem devagar
Se disse enfim, somente o que interessa
Se ao invés, me abstive de falar
Quase fé! Quase um grito! Quase morte!
Quase réu! Quase amor, e quase frota
Fui sendo um só navio no mar da sorte
Grumete que o navio quase pilota.
Jamais eu me assombrei inteiramente
Jamais fui fogo ardente de paixão
Mas fui quase surpresa, unicamente
No quase amor do pleno coração!
Fui quase dedicado àquele amor
Que um dia me chegou em harmonia
Até que transformou-se nesta cor
De cinza quase-noite ou quase-dia!
Um pouco mais de amor e eu fora amante.
Um pouco mais de ouvir e eu fora amigo
Um pouco mais de ardor e eu fora avante
Um pouco mais de andar e eu fora abrigo...
E fui quase um amante em quase amor
E fui quase um amigo em quase ouvir
E quase fui avante em quase ardor
E quase fui abrigo em quase ir...
Faltou-me muitas vezes persistência
Em outras me perdi em euforias
Além eu fui, mesmo da paciência
Aquém fiquei da aurora dos meus dias.
Segui me orientando pela urgência
Levando a inteligência à pequenez
Sem notar que uma quase-inteligência
É o mesmo que uma quase-estupidez!
Enfim quase perdi minha existência
Mas “quases” me serviram de sinal,
Faltou-me ou tive excesso de prudência,
E assim, quase me curo deste mal...
* * *