QUASE

QUASE

J.B.Xavier

Em tudo o que sonhei do que vivi

No riso, cada passo, cada fase

De tudo passei perto, e do que vi

Fui sempre separado por um "quase"

Se um dia caminhei muito depressa

Se ao contrario, eu fui bem devagar

Se disse enfim, somente o que interessa

Se ao invés, me abstive de falar

Quase fé! Quase um grito! Quase morte!

Quase réu! Quase amor, e quase frota

Fui sendo um só navio no mar da sorte

Grumete que o navio quase pilota.

Jamais eu me assombrei inteiramente

Jamais fui fogo ardente de paixão

Mas fui quase surpresa, unicamente

No quase amor do pleno coração!

Fui quase dedicado àquele amor

Que um dia me chegou em harmonia

Até que transformou-se nesta cor

De cinza quase-noite ou quase-dia!

Um pouco mais de amor e eu fora amante.

Um pouco mais de ouvir e eu fora amigo

Um pouco mais de ardor e eu fora avante

Um pouco mais de andar e eu fora abrigo...

E fui quase um amante em quase amor

E fui quase um amigo em quase ouvir

E quase fui avante em quase ardor

E quase fui abrigo em quase ir...

Faltou-me muitas vezes persistência

Em outras me perdi em euforias

Além eu fui, mesmo da paciência

Aquém fiquei da aurora dos meus dias.

Segui me orientando pela urgência

Levando a inteligência à pequenez

Sem notar que uma quase-inteligência

É o mesmo que uma quase-estupidez!

Enfim quase perdi minha existência

Mas “quases” me serviram de sinal,

Faltou-me ou tive excesso de prudência,

E assim, quase me curo deste mal...

* * *

JB Xavier
Enviado por JB Xavier em 23/06/2009
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