O Fantasma de Mim Mesmo
 

A personalidade
de um pretérito velho miliciano,

assombra o presente
como se estivesse vivo.

É em sua árida e fria amargura
que parecem se erguer
os alicerces rudes de minha alma.

Não há como abandoná-lo,
pois é ele que encontro
quando estou só.

Nada é mais vivo em mim
do que esta
extemporânea personalidade.

Não julgo isso bom ou ruim,
apenas constato,

Embora confesse
que preferiria rejeitar.

De alguma forma
a isto está atrelada
a sensação de finitude,

Um confronto entre
o sentido superficial
e o profundo da morte.

Nessa imagem interagem
efemeridade e eternidade.

É algo que tanto atrai-me,
como faz-me acuado.

Enche-me de dúvidas
e estranhamente dá-me certezas.

É limiar entre a lucidez
e o temor pela insanidade.

Sei que nele está
o concluir-me como ínfimo,

Ante a inutilidade
de todo orgulho e prepotência.

Ali concentra-se um excesso
de grandeza humana,

Ali está o nascimento
para o real tamanho espiritual.

A frustração consigo,
e a promessa de libertação.

O desejo de finitude,
Sendo destruído
pelo reconhecer da eternidade.

Uma revolução dos valores
na intimidade do ser.

Um confronto entre
os caminhos do ódio e do amor.

O necessário controle da ira,
O desafio ante
o vulnerável construir do amor.

Hoje novamente
visitou-me a força da ira,

E talvez por isso,
instintivamente passei a escrever.

Não encontrando forças em mim,
Pedi ao Pai Criador
que afastasse este cálice,

Pois invadia-me impulsivo
desejo por seu líquido.

Em meio a tantos conflitos íntimos,
Julguei ser feliz o niilista
que anestesia o espírito.

Para depois contrariar-me,
Supondo-o apenas a protelar
a solução do problema.

E nessa solução
quem sabe a verdade buscada,

Um transbordar de razão
a desvendar a fé.

E ver que a fé não morre
ao encontrar-se a razão,

Para logo descobrir,
Que talvez a razão
tenha surgido do desafio da fé.
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 20/06/2009
Reeditado em 13/06/2017
Código do texto: T1658722
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