Entre um cigarro e outro
A página em branco me assombra,
sem sombra de átomos no banco.
Átomos para fazer letras.
Na cabeça, sem banco de dados.
Árduos momentos ao vento,
levando o sentido ao nada.
O tudo não completou a alçada.
Mais um verso para o intento.
A intenção é mais que o talento.
Pensar. Soprar. Fumaça.
Fora da página, olhando o ar,
fui me desfazendo do branco.
Finalmente acessando o banco.
Mais um trago a traçar um troço,
no não olhar para a página que esboço.
Do nada vieram palavras,
renovando a poesia em novas safras.
Sem o branco da página ficou mais fácil.
Mais um sopro para trazer um verso ágil,
no trago que trago para fora.
Repetindo o banco na memória,
aquela aleatória cerebral, a mesma história.
Volto ao patético reforço musical,
revisando mentalmente cada vogal,
num ritmo de criança que decora o telefone.
Repetindo o banco na memória.
Deixando o branco cheio de história.
Mais um trago para fingir a vitória.