COMO TE AMEI! QUANTO TE AMO!

 
Hoje amanheci na corda bamba,
Abraçado meus trapos,
Perdido entre sonhos desfeitos
Sob os lençóis, outrora o esconderijo,
Onde perdidos de amor,
Entregávamos-nos entre sons
Coloridos do alvorecer.
Mas tudo passou!
Ficaram as dores que emergem
Das cicatrizes ainda enrubescidas,
Como um grito de dor ou de amor
Não correspondido,
Como lágrimas brotando da alma,
Abrasando a face, corroendo o peito,
Ferindo o outro eu que tentei – em vão –
Preservar dos golpes do seu talvez.

Agora sou eu e o meu silêncio.
Posso ouvir as batidas do coração
Como que num brado de desespero,
De agonia... Em grande e improfícuo clamor,
Que eu te arranque de mim.
Meu olhar vazio percorre a paisagem cinza...
Olho os muros baixos que dão a idéia de uma
Utópica liberdade... Nas marquises eu vejo
Palavras desenhadas entre os rastros do tempo
E tudo... Tudo... Tudo me faz lembrar você.
Logo você que é tudo que eu preciso esquecer agora.
 

As horas passam... Sinto meu corpo flutuar.
Não tenho mais controle de mim.
Sou levado pela vontade de não existir.
Olho as nuvens... Meu DEUS... (brado aos céus)
Vem de onde essa ânsia?!
Que mistério é esse escondido
Nos átomos desse sentimento?
E que deflagram em fúria – como o cogumelo de Hiroshima - 
Dilacerando todo o meu ser?
Ergo meus olhos para os montes
De onde não me virá socorro algum,
Se não um inerme otimismo à espera do nada,
Que me vem como uma tábua de salvação.
Mas lá no fundo do meu coração,
Pulsa a realidade sufocando minhas utopias,
E embora eu não queira, eu sei que nunca será diferente!

Tudo acabou.
Nas suas lembranças, talvez eu seja um pedaço de alegria
Daqueles bem chochos – como jornal velho.
Sou agora um ex-amado amante impedido de
Saborear o puro mel dos lábios teus.
Tudo passou.
Só eu fiquei. Somente eu perpetuei
Aqueles momentos que fantasiei serem nossos;
Ficou como uma tatuagem feita a ferro e fogo
E que nem mesmo o tempo conseguirá remover.

O seu não é um eco ensurdecedor
Martelando a minha cabeça numa repetência
Alucinógena e louca, angustiante e desesperadora...
Seu adeus retumba no meu âmago como uma gusa que tini
Despertando um vilarejo calado, ainda entregue ao sono,
Nos braços da madrugada.
Carrego asilada no meu peito uma (in) certeza íntima,
Um pressentimento de que desfalecerei no dia
Quando alguém tocar teu corpo,
Tocar teus lábios e receber de ti o que a mim
Tu oferecias nos seus ébrios momentos de carinho.
Aí será o fim de todos os sonhos
E de todas as minhas possibilidades.
Findarão os meus poucos recursos e então...
Que DEUS me livre!
A brisa passa. Sinto seu perfume nesse meu desatino!
Seu cheiro, sua voz...
São como palavras trazidas pela noite
Sussurradas no meu ouvido como voz de anjo.
Meio às estranhezas do meu imaginário,
Eis que um convite para ser feliz de novo
Eu consigo discernir no meio do turbilhão de vozes
Que ilham meus passos.

Sou um anônimo destinatário,
Um sujeito oculto como aquele do “aluga-se esta casa”,
Do “vende-se este carro”, mas sou um alguém
E eu sei que ainda é tempo de lembrar,
Quem sabe até de sonhar de novo?
E isso é bom!
Para começar assim será.
Durante as próximas vinte e quatro luas cheias
- tempo necessário para esquecer –
Ou para sobreviver... Ou viver... Ou ser feliz
Minha vida estará desgarrada da sua.
Estarei livre de ti, oh ninfa algoz,
A quem se destinam essas palavras tolas
De um igualmente tolo que caiu nas armadilhas do amor.

Sob o efeito das magias, encantamentos e das minhas
Quimeras desgarradas, ainda clamo aos céus – nem que
Fosse pela última vez – a oportunidade de sentir tua pele
Acalorar o frio da minha solidão.
Mas acabou. Quero-te ainda. Não te quero mais.
Estou perdido no meio de uma confusão, entre o desejo de lembrar
E a necessidade de esquecer!
Esforço-me para ejetar essa paixão avassaladora plantada em mim
Mas o meu coração me trai e quando menos espero
 Lá estou... E me pego pensando em ti mais uma vez,

Preso na areia movediça, atolado no lodaçal da desilusão!
Você é uma menina marota, desmazelada e com ataques de maldade;
Meus sentimentos tornaram-se simples brinquedos
Esquecidos no canto de algum lugar gélido,
A mercê do tempo que a tudo exclui.
Esquecerei-te. Sentirás falta do meu amor.
Sentirás falta de o meu amar despretensioso e belo e único e só seu.
Haverá uma sentença. Será – e é – irrevogável o resultado do amor.
Então será tempo tardio... Do pranto... Da dor...
Tempo de despedidas, tempo de colher o que se plantou
E de saborear os frutos da plantação.

Passei noites em claro.
Por ainda sonhar, até decorei camões
Com seus versos do ser e do não ser,
Do côncavo e do convexo e assim fui criando
Verdades feitas de mentiras, a fim de me manter de pé.
Meu DEUS!... E nem sei de quantas vezes faço conta – ou faço de conta –
Que tudo poderia ainda ser belo e puro como a flor do lírio,
Como o aroma das flores dos campos,
Como na beleza dos primeiros dias!
Mas acabou. Essas lembranças decepam minhas forças
Assim como uma velha guilhotina
Que decepa vidas mal começadas.
Quantas mentiras ditas pelo coração!
Quantos sonhos inacabados!
Quantos desejos e planos naufragados no mar do seu talvez!
Eu agora busco certezas e motivos para conter minha dor.
E o que faço eu com o presente é apenas acastelar esperanças
De um amanhã, onde eu possa novamente sorrir,
O meu sorriso de felicidade!
Pra quem sabe escutar é belíssimo sentir a linguagem da ternura
Adentrar a alma como um canto de louvor a DEUS,
Entoado por Querubins, por crianças e por Serafins.
Você não sabe. Quem não dar valor não sabe.
Seu bordão de que ninguém vence a maldade
Cairá por terra como duas algemas partidas
Libertando um inocente das cadeias horrendas deste mundo.
Haverá um julgamento. Seu julgamento.
A frieza do seu coração já fez de ti uma ré eternamente culpada.
Passei tempos preciosos da minha vida a rezar a tua prece
A obedecer aos seus caprichos.
Mas tudo acabou. Acabou como se acabam todas as coisas.

Tivemos o fim marcado por um abraço frio.
Lembro-me dos bons tempos quando namoramo-nos;
Quando éramos tomados por um desejo ardil e jovial,
Que nos absolvia de tabus e de culpas;
Lembro-me quando movidos por abrasivos sentimentos –
Qual alazão selvagem em disparada pela virgindade das savanas –
Tornávamo-nos um todo, como duas gotas de orvalho
Que escorrem pela vidraça e depois se encontra e se
Unem num eterno abraço.

O ano está por acabar. Tudo será diferente.
Acho que vou compor uma balada para o ano novo,
Alguns versinhos para uma cantoria regada à “Brejas” geladas.
O título será: palhaços de mim.
Farei um tautograma da saudade, como aquele
Que um dia eu li no livro Limiar de uma amiga poetisa lá Sul.
Ou quem sabe simples versos de rimas óbvias
Como estas desse tal de Breganejo.
D e qualquer forma estarei nos embalos de um nova era;

Na dança da madrugada serei menino ensaiando
Os primeiros passos, buscando um novo par.
Quando eu encontrá-la – minha metade –
Poderei novamente dizer: somos três: eu, você e a felicidade.
Seremos parte de um plano arquitetado pelo amor.
A noite trouxe(trará) o encontro verdadeiro
E verdadeiros seremos até não ter mais fim.

 

Temos a tendência infantil de seguir o êxtase da sociedade
E por isso sofremos os desamores,
Atropelamos os amores e somos enquadrados
Na causa mortis(mor) de tantos sonhos,
De tantas coisas que nem mesmo eram nossas.
Tantas vezes somos assim e agimos assim...
Sem motivos aparentes nos tornamos Homens de pedras,
Estátuas de sal, dor pungente sem horas de seguir.

Mas lá no fundo, no silêncio da madrugada,
Quando nos enroscamos com o nosso travesseiro,
Descobrimos – ou admitimos – que tudo aquilo
Que mais desejamos nesta vida
É sentir uma doce carícia... De coração para coração.
Passarei por tudo. Este fogo arderá mais não me queimará;
Esta água me submergirá, mas não me afogará;
Qual novo depois será tudo, como borboleta saída do alvéolo
Como flor saindo do botão... Assim será o meu coração
Preparado para um novo amor.
Tudo será passado e estará no passado.
Tudo será uma metáfora da saudade que terei sentido,
Que terei ruminado juntamente com meus dissabores.

Quero encontrar a minha alma gêmea num baile.
Um baile de valsa de preferência. Adoro valsas.
São suaves. Suaves como o balé disforme
De uma borboleta amarela sobre as flores dos campos.
E então hei de te estender a mão, olhar nos teus olhos
E sussurrar estas palavras: dança comigo?
Quem sabe um dia eu receba uma carta da ingrata
Que me trocou por uma ilusão, e quem sabe nela esteja escrito:
“- Nunca te esqueci! Te vejo na foto, amado meu!
E esse é todo o meu consolo!”
Escrever-te-ei oferecendo-lhe o meu perdão
E votos de que encontres a verdadeira felicidade
E que não me escreva mais.
No remetente não colocarei meu nome,
Escreverei com letras douradas num envelope azul:
Sou o destinatário do amanhecer – a fênix de uma nova era!
E esta será a última postulação que farei para você
Por toda a minha vida!
E então estarei definitivamente livre
para seguir o meu caminho!

luznaentradadotunel
Enviado por luznaentradadotunel em 13/06/2009
Reeditado em 17/06/2009
Código do texto: T1646860
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