Marcha, Soldado!
 
Música e canhões.
Clarins e tambores.
Em meio à artilharia,
o toque miliciano da fanfarra.
Campo de guerra.
A explosão da semente do conflito.
Vociferar de vozes masculinas.
Gritos imperativos.
A ideologia inflexível.
As sonoras palavras de ordem.
Esmagam as flores do campo
pesados coturnos reluzentes.
Os músculos adutores
são indiferentes ao massacre.
Basta a pressão dos pés
sobre o solo e pronto.
“Marcha soldado, cabeça de papel...”.
Velha brincadeira de criança
agora é sina de adulto.
Não há como guardar
qualquer sentimento.
Deve prevalecer
a ação objetiva pela sobrevivência.
Não importa analisar,
mas o cumprir do dever.
Num cérebro adestrado
não devem influenciar sensibilidades.
E por desprezar-se
a emoção o coração se petrifica.
Rocha pura lapidada
pelo cinzel das conveniências.
No anular das emoções
o fluir poderoso da mecanicidade.
Desumanização. Nem osso,
nem músculo ou neurônios,
mas uma arma,
uma máquina beligerante de combate.
Um soldado,
muitos soldados
e, por fim, um batalhão.
O movimento da uníssona marcha
e depois a imobilidade,
transformando-se, todos,
numa imensa muralha de pedra,
em meio à qual escorre oculta uma lágrima.

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 09/06/2009
Reeditado em 13/06/2009
Código do texto: T1640035
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