Eu, de voto
A quem invoco neste poema?
À Laura, ao Petrarca, ao Drummond,
Ao Pessoa, ao Camões, ao Bertold
Ou ao Samuel ou, mesmo, ao Job
Tão santo e paciente quão inexistente...
Invocados todos, esses e os caladinhos,
Proclamo perante a vossa presença
Que eu de voto tenho quase nada:
Eu sou eu e só eu em solidão radical
E super-realista, transcendente, viva:
Por mim existem os governantes
E naõ eu por eles: Se eu não existir,
A quem poderiam governar, a quem?
Como eu mando e ordeno no meu voto
Mas eu não sou o meu voto, insisto:
Eu de voto nada sou, só governado
Pelos governantes que eu governo...
Ha, ha, ha, ha, ha, ha, ha... espantosa-
Mente ha, ha, ha, ha, ha, ... de mente!