Pós-Atirador
Miro o silêncio no largo dos passos
E atiro o grito no vago dos pés
Arrastando o Nada no lastro de cimento
E esfregando a sola na cara dos sapatos;
É manhã, e na Rua do Ouvidor têm-se silêncio,
Na Ilha, a vida continua e os carros passam...
Pessoas fingem subjetividade, e o sono,
Grande majestade, desperta o gozo dos mortos.
Esquartejaram meu irmão... Contaram cada sílaba
que seus ossos tinham, e Eu, piamente,
Assisti com a foice-bisturí entre os dedos...
Era tarde, e na linha de sangue vermelho
O sol banhava sua chaga nas montanhas
Lastrava assim, toda sua dor em mim...
Eu pintei um quadro colando verdades;
Agora, é noite. Eu visto o manto enevoado
E prego nos dentes peças de chumbo...
Meus dedos viraram gatilhos, e o verbo,
Projétil sujo de toda minha ignorância.