Pós-Atirador

Miro o silêncio no largo dos passos

E atiro o grito no vago dos pés

Arrastando o Nada no lastro de cimento

E esfregando a sola na cara dos sapatos;

É manhã, e na Rua do Ouvidor têm-se silêncio,

Na Ilha, a vida continua e os carros passam...

Pessoas fingem subjetividade, e o sono,

Grande majestade, desperta o gozo dos mortos.

Esquartejaram meu irmão... Contaram cada sílaba

que seus ossos tinham, e Eu, piamente,

Assisti com a foice-bisturí entre os dedos...

Era tarde, e na linha de sangue vermelho

O sol banhava sua chaga nas montanhas

Lastrava assim, toda sua dor em mim...

Eu pintei um quadro colando verdades;

Agora, é noite. Eu visto o manto enevoado

E prego nos dentes peças de chumbo...

Meus dedos viraram gatilhos, e o verbo,

Projétil sujo de toda minha ignorância.

R Duccini
Enviado por R Duccini em 16/05/2009
Reeditado em 20/05/2009
Código do texto: T1597117