Ecos Mudos
Se estivesse diante de mim...
Se pudesse olhar,
Mergulhar
Nos olhos meus...
Prefereria-me muda...
Pela minha face
Todas as palavras desfilam...
Escorrem...
Jorrando da fonte...
Como refletor em tela grande...
Onde tudo que foi dito,
E tudo que foi reprimido,
Apresenta-se nu...
Cru...
Rasgando-lhe a vergonha...
Submergindo medonha...
A falta do pudor...
Não há uma máscara
Para aliviar-te a visão...
Não há um véu
Que impeça seu rubor...
Há um imã invisível...
Que puxa...
Que atraí...
Que desperta o apetite...
Escancarando seu estômago,
Sua boca...
Sua alma...
Que queres então de mim?
Não sei mais rimar...
Nunca soube amar...
E a mão
Não sustenta mais a pena
A voz
Emudeceu...
Não há nada para ser escrito!
Nada para ser dito!
Nada mais para ser ouvido!
E tudo já se viu...
Todos os esforços...
Forçosos...
Em vão...
Todo ato...
Todo o verbo...
É eco...
Que repete...
Continuamente...
Mesmice...
Me encontro
Nos desencontros
Das encruzilhadas de mim...
Em mim...
Onde me perco...
E me acho...
Não sei falar bonito...
Mas bonito é o que sinto...
E o que sinto é confuso para ti...
Inatingível...
Inimaginável...
Daqui de dentro
Uma voz fala...
Essas coisas desconexas...
Sem nexo...
Sem boca...
Sem face...
Sem sexo...
E vai falando...
Essa coisa...
Que fala
Dessas coisas...
E deixo...
Fale, pois já sei:
Nunca se cansa.
Então fale...
Pois, se estivesses
Diante de mim...
Olhando em meus olhos...
Te perderia neste abismo
Onde um dia me perdi...
E nada ouviria...
Não foi o toque
De seus dedos...
Nem teus lábios úmidos...
Que calaram a minha boca...
Esta minha boca...
Que um dia desejou para ti...
Calou-se...
Tornou-se muda...
Pois brada oriunda...
Submergindo...
Alma que inunda...
Neste abismo profundo...
Pelo mundo profano...
Um eco sem fim...
São Paulo, 07 de Maio de 2009.
Abstratamente em devaneio....