Re-conhecimento
Edson Gonçalves Ferreira
Frango-se vende
A língua portuguesa endoidou
Essa frase não tem sentido
Voz passiva não é
Passivo ficou foi o povo
Não liga pra nada
Só se esse frango tivesse uma bolsinha
Como alguns têm
A frase ganharia sentido impróprio
Quero escrever direitinho
Não se inicia oração com pronome pessoal do caso oblíquo
O povo brasileiro vive na olíquidade
Te amo, te detesto, te adoro, te mato, te gosto
Danada de vida
O presidente sancionou a nova reforma ortográfica
Não ajustou o salário dos professores
Alega que não tem dinheiro
E o que ele quer emprestar pro FMI?
Analfabeto agora já tem diploma
Alguns até mestrado
Até lecionam
Não estou falando bobagens
Educação é necessária
Se for boa
Empurra aluno não vale
Agora, poesia é que é troço fino
Precisa fazer a gente comover
Falando em gente, gente não é pronome
A gente fazemos, dói
Meu Deus, em cada esquina um chute
Até a Globo escreve horas em inglês
Não existe 09:00 hs em português
Só 9 h
Então So-letrando o Soletrando
Vou enviar uma carta
Como queria fazer Policarpo Quaresma
Você não sabe quem é
Não perca tempo
Corra
Vai ler, então, "O triste fim de Policarpo Quaresma", amigo(a)
Lima Barreto foi um grande autor
Policarpo queria que o idioma nacional fosse o tupi-guarani
Não tenho preconceito
Mas ele estava certo
Aqui só tem índio e a maioria nem apito tem
E o índios de Porto Seguro
Pode? Foram proibidos de assistir às comemorações
Sim, as comemorações do Descobrimento do Brasil
Será que os homens de casaca acham que são donos do país
Quero minha mãe pra me ensinar de novo tudo
O que é certo virou errado
O que é errado virou certo
Sexo não é amor
Pode ser gostoso
Olho no olho é muito mais saboroso
Queria alguém só para pegar na mão
Andar feito bobo pelas ruas
Falando -- aqui o gerúndio está certo -- te amo, te amo
Não diga que vai estar ligando pra mim
Não tenho tanto tempo desocupado
Se você dizer essa bobagem, quebro o telefone
Cuidado, gente, a reforma ortográfica está chegando
E a mixaria continuará caindo na nossa conta
Professor agora tem que fazer bico
Eta, políticos safados
Dizem que não têm dinheiro
Estão com as burras cheias
Nem falar dereito eles sabem
Perdoem-me o atrevimento
Não vou escrever nadica mais
Fá-lo-ei depois.
Divinópolis, 03.05.09