Intermezzo

Um intermezzo de sensações conflitantes,

Ruídos perdidos no vazio de ruas estreitas,

Passos desequilibrados em fios de nylon,

Mentes entorpecidas por um cálice de dor,

Brilho fosco no metal de espíritos solitários,

Alucinações escondidas em sonhos acordados,

Pulsação marcando batimentos desencontrados,

Nada faz do tudo alguma coisa sem sentido,

Beleza refletida no espelho sem vidro do sótão,

Ecoando um passado-presente que não se apaga,

Ocultando um futuro sem porvir duradouro,

Desconhecendo saber qualquer resposta plausível,

Obtendo gotas de fé em tempestades de ilusão,

Mantendo frio o café da xícara sobre a mesa esquecida,

Na ausência do aquecimento da nevasca interna,

Sem lareira para amenizar mãos insistentes em abrir a janela,

Claridade que assusta os morcegos cegos da caverna,

Consciência de uma neurose deixada no divã do analista,

Terceiros que jamais serão primeiros no pódio da vida,

Sussurros tristes esvaindo-se em lágrimas invisíveis,

Promessas quebradas no vendaval de revoltas incontestes,

Controle desligado do plug da memória em amnésia recente,

Sorriso trancado nas profundezas de uma cápsula submarina,

Sobrevida de um tempo sem cronômetros ou ampulhetas,

Necessidade de inviabilizar os acessos de resgate do meu EU,

Numa viagem de trem com rumo a uma cidade fantasma,

Buscando uma solidão sem cobranças ou arrependimentos,

Uma colina para acalmar pensamentos inquietos...