TEMPESTADE DE GRITOS
Noite de tempestade!
Tempestade que invade os domínios-
debalde enxofre esfarinhado,
de encontro ao ventilador,
no cheiro forte atordoante do calor.
A voz rouca de uma mulher roliça;
o cheiro maduro de uma criança verde,
tomada pelo diabo,(monstro debutante),
rasga a garganta nua, entra pelo intestino
inchado, de bolhas, velozmente trucidado.
Arranha o seio da mãe desconjurada,
apoderando-se da noite como dona;
estremecendo vigas e arcadas;
ensurdecendo, repuxando nervos-
choque cruzado em circuito,
provocando uma “tempestade de gritos”
até ao máximo dos decibéis insuportáveis.
- Aportam-se às janelas discussões e mais gritos;
protestos de entes corruptos do futuro monstro,
tornando a guerra mais perfeita.
Apartamento minúsculo-
inferno aceso de prazeres atuantes-
ideia cômoda de ascender à privacidade contestada.
-O grito solto se espalha no ar.
Derruba o sono dos mancebos;
toma conta da noite- desde o começo e durante.
-As vozes roucas de outras mulheres clamam do Estado
o acertos das leis que garantem o sono,
no apogeu da flama, incorporada nos ânimos entulhados.
Circo debalde- inervante pirueta do passar das horas.
Gritos cristalizados, artificiais, transportados
na metamorfose da periferia “do Ano Dois Mil”, perfil indiserto.
Novo grito se ouve... grito pontiagudo,
penetrante, petulante, invasor, arrombador
do direito de se ter direito imaculadamente.
- De um lado – o direito de se querer gritar;
-do outro – o de não aceitar a defasagem,
“the end” das fitas corriqueiras dos filmes faroeste.
Em jogo o direito de poder gritar
e interromper o sono empunemente.
Os gritos enfrentam outros gritos de vozes estridentes que
fecham a escuridão num repique infinito das portas de hospícios;
aí, já não se fala mais de direitos ou leis.
Aparece ainda a palavra liberdade, mas só aparece
somada ao restante do concerto:
“ mil comeias em tempo de prontidão.”