MADRUGADA DE SILÊNCIO
Madrugada de silêncio,
de rumores incertos,
de motivos estranhos.
Almejo quietude, vasta solidão.
Não amo ninguém, nem a mim mesmo.
Tenho a vida perdida.
Perdida, no ser só.
Só, na amplidão, no mistério do nada.
Madrugada de silêncio.
Silêncio de paz,
talvez de angústia.
Sou distante de tudo.
Tudo é longínquo, a vida, a menina que passou.
Eu também já vou longe.
Longe de mim, do azul celeste.
Perto da estrela eu queria estar.
Estar nos olhos dela,
em meio à sorrisos silenciosos,
às flores, à afagos de mãos delicadas.
Eu não queria estar no silêncio da madrugada.
Madrugada de murmúrios,
sussurros vagos,
vagos como a própria existência.
Ah, pedaço de noite,
razão intranqüila da natureza.
Natureza morta de medíocre pintura.
Lentamente o dia te assassinará,
tu te sucumbirás ao brilho solar,
fenecerá a ensurdecedores movimentos,
máquinas girando.
Aí, tu te lembrarás de mim,
do meu tédio, do motivo de ser só no meu silêncio.
Ah, já nem sei se pensas,
se tens o direito meu.
Enquanto tu caminhas para mais uma morte,
lentamente eu te sigo,
no infinito desejo de saber quem sou eu.