CÉU ANTERIOR
A imagem transpõe-se na pintura.
O sorriso aparece,
os olhos, quase escuros,
ofuscam a imaginação,
surgem fatos
revividos em retratos,
pequenas imagens.
Eis algo estranho,
a simples sombra na tela,
gravada à aquarela,
rebuscou um mundo anterior;
uma estrela, uma menina, um amor.
A imagem se fez de volta,
a saudade parte, se solta,
vagueia intranqüilamente
em busca da tela,
da pintura,
da mesma criatura,
de um minuto anterior.
Anterior ao pecado, ao desejo.
Anterior mesmo àquele beijo.
Volta a saudade ao abismo mais profundo,
perscrutando a existência
em um motivo anterior;
anterior a própria vida, ao próprio mundo.