O Nada
 
O número zero, uma situação
de completa neutralidade.

A ausência de posição;
não se adota a direção
positiva ou a negativa.

Um ponto perdido no infinito;
de tão pequeno,
é praticamente nada.

Uma quase insignificância.
De tão ínfimo, denota ali
existir apenas vácuo.

Um incômodo e pesado vazio
na contradição de existir,
embora inobservável.

Crescendo na sua invisibilidade,
sendo gerado mesmo
que a contragosto.

Numa evolução contínua,
num desenvolvimento obstinado,
insistindo em surgir.

Criando um nó na garganta,
cravando aguda dor
a dilacerar as fibras do coração.

Nascendo, finalmente,
como que um feto
de um sentimento machucado.

Existindo, mas contrariando
a própria existência,
numa negação total de si.

Tentando encontrar consolo
no inverso da vida,
na idealização heróica da morte.

Buscando, na razão, o senso lógico;
fazendo comparações,
descobrindo iguais e diferentes.

Sentindo o poderoso choque
existente entre o vasto infinito
e o espaço delimitado.

Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 19/04/2009
Reeditado em 31/05/2009
Código do texto: T1548306
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