O Nada
O número zero, uma situação
de completa neutralidade.
A ausência de posição;
não se adota a direção
positiva ou a negativa.
Um ponto perdido no infinito;
de tão pequeno,
é praticamente nada.
Uma quase insignificância.
De tão ínfimo, denota ali
existir apenas vácuo.
Um incômodo e pesado vazio
na contradição de existir,
embora inobservável.
Crescendo na sua invisibilidade,
sendo gerado mesmo
que a contragosto.
Numa evolução contínua,
num desenvolvimento obstinado,
insistindo em surgir.
Criando um nó na garganta,
cravando aguda dor
a dilacerar as fibras do coração.
Nascendo, finalmente,
como que um feto
de um sentimento machucado.
Existindo, mas contrariando
a própria existência,
numa negação total de si.
Tentando encontrar consolo
no inverso da vida,
na idealização heróica da morte.
Buscando, na razão, o senso lógico;
fazendo comparações,
descobrindo iguais e diferentes.
Sentindo o poderoso choque
existente entre o vasto infinito
e o espaço delimitado.