Os sonhos que rasguei.
Os sonhos que rasguei.
Faço contas, equações
E logo no começo me perco
Na imensidão do espaço.
Acabo deslizando em infinitas
Semi-fusas, aos passos
Nômades da era Paleolítica.
Não sei francês, mas só durmo
Ao som de Edith Piaf,
Na tentativa de desvendar
O idioma das obras de Picasso.
Se sonhei, sabe lá, quem saberá?
Quem sabe um dia eu escreva nas
Cinzas do acaso os sonhos que
Sem querer rasguei.
Faço contas, e dos sonhos
Um caso, um enredo ou
Numa nuvem fria um desejo,
Coberto de rosas sem data e nem rota.
Jane Krist
Nos desertos das incertezas e na ânsia de desbravar o limite do real nada melhor que mergulhar na poesia real de Antero de Quental. O poeta que não se intimidou diante da opinião dos “mestres” contemporâneos que recebiam méritos, em seus dias. Fincou seu emplasto e se perpetua diante do efêmero que marca o ser humano.
Solemnia Verba
(Antero de Quental)
Disse ao meu coração: Olha por quantos
Caminhos vãos andámos! Considera
Agora, desta altura, fria e austera,
Os ermos que regaram nossos prantos...
Pó e cinzas, onde houve flor e encantos!
E a noite, onde foi luz a Primavera!
Olha a teus pés o mundo e desespera,
Semeador de sombras e quebrantos!
Porém o coração, feito valente
Na escola da tortura repetida,
E no uso do pensar tornado crente,
Respondeu: Desta altura vejo o Amor!
Viver não foi em vão, se isto é vida,
Nem foi demais o desengano e a dor.
O Palácio da Ventura
"Sonho que sou um cavaleiro andante
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busco anelante
O palácio encantado da Ventura.
Mas já desmaio...exausto e vacilante
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante,
Na sua pompa e aérea formosura.
Com grandes golpes, bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas de ouro, ante meus ais!
Abrem-se as portas de ouro, com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão – e nada mais!
Antero de Quental