AMPLEXO SEM NEXO
Vou te envolver em um amplexo
Na eternidade de um segundo
Que seja fugaz mais dure um século
Tão pequeno sim, mas como o mundo.
Que sendo real, seja sem nexo
Como no sono profundo
É o doce sonho do poeta.
Vou te agarrar como o plasma
De gaseificado e vil fantasma,
Como o cair sutil de penas brancas
Nas mãos cor-de-rosa de uma fada.
Sorver com sofreguidão o teu perfume
Vendo o piscar dos vagalumes
A açoitar da noite, a amplidão.
Hei de ter, então, gozo irreal
De beber em ti o bem e o mal
Na áurea taça amarga da ilusão.
E já que tudo, em fim, é sonho,
Tão lindo, irreal e tão medonho,
Eu vou coroar-te com palmas
Dos restos que sobram da minha alma,
E dedilhar feroz minha canção,
Com cordas sol, si, mi do coração
Feito em tiras pelo aceno
Do adeus de tuas mão!