Metade inteira
Não me fere a tua ausência
Nem me diz nada tua fala
Minha metade inteira é impregnada
Do senso crítico do só
Quero me encontrar comigo
Vou me entrevistar na madrugada
Sem rodeios me encontrarei.
Se minha metade hoje inteira
É também a companheira
Dividirei com ela meus abraços
Meus laços frouxos soltaram
As amarras da prisão clandestina
Em que está meu coração
Sem sentir tua presença
Agora distante e afogada
Vou seguindo minha busca
Nadando em minhas mágoas
Enquanto água houver
Nunca estarei incompleta
Mesmo metade inteira
Vou fazer mil descobertas
Já estive em teu sonhar
Sou fantasma que ri e chora
Na tua insônia já fiz minha casa
Da tua memória sou a dona
Quase sempre me punindo
Por subornar tua cabeça
Quero agora que me esqueça
Vou sair na mansidão
Vou jogar com tua luta
Pra me tirar do coração
Te deixo com a certeza
De que meu amor não morreu
Pois nada em mim morre ou acaba
Sou obra inacabada do dono do universo
Estou em metamorfose latente
Na transformação da metafísica
Onde só existe o seguir em frente
Não sou diáfana ou metal
Sou só algo que se sente.