Kitsch
Apavora-me a idéia de me pertencer
Tomar conta de mim é indecifravelmente uma incógnita
Fazer o que de um corpo com alma?
Sou a peça em xeque num tabuleiro de xadrez
Rainha sem trono, cobra sem veneno
Tomada de espanto vou me obrigando a seguir
Sem opção de parar ou de perguntar o que tomar
Dou-me a chance da dúvida, da incerteza
Chego a pular sem ter onde cair, cadê chão???
Rasgo-me em versos pra que alguém possa me juntar os pedaços
Estranhamente feliz vou catando pétalas de calhau
Construindo castelos de ar na terra do nunca
Dentro de um ecletismo banal e sem propósito
Junto correntes de pensamentos que jorram na fonte esquecida
Do conhecimento abstrato da arte que ficou sem ser escrita ou decifrada
Código de um enigma que alguém ainda vai inventar
Escroque de amores furtivos e crimes passionais
Fraga perigosa de altura sem fim, sem começo, sem chão
Zurrapa jogada no fundo de uma adega qualquer
Vou sorrindo como se me alimentasse do pleno vazio
De saber que sou embarcação naufragada nesse mar azul
Enquanto não me transformo em água me inundo com teu prazer.