Kitsch

Apavora-me a idéia de me pertencer

Tomar conta de mim é indecifravelmente uma incógnita

Fazer o que de um corpo com alma?

Sou a peça em xeque num tabuleiro de xadrez

Rainha sem trono, cobra sem veneno

Tomada de espanto vou me obrigando a seguir

Sem opção de parar ou de perguntar o que tomar

Dou-me a chance da dúvida, da incerteza

Chego a pular sem ter onde cair, cadê chão???

Rasgo-me em versos pra que alguém possa me juntar os pedaços

Estranhamente feliz vou catando pétalas de calhau

Construindo castelos de ar na terra do nunca

Dentro de um ecletismo banal e sem propósito

Junto correntes de pensamentos que jorram na fonte esquecida

Do conhecimento abstrato da arte que ficou sem ser escrita ou decifrada

Código de um enigma que alguém ainda vai inventar

Escroque de amores furtivos e crimes passionais

Fraga perigosa de altura sem fim, sem começo, sem chão

Zurrapa jogada no fundo de uma adega qualquer

Vou sorrindo como se me alimentasse do pleno vazio

De saber que sou embarcação naufragada nesse mar azul

Enquanto não me transformo em água me inundo com teu prazer.

Ana Maria de Moraes Carvalho
Enviado por Ana Maria de Moraes Carvalho em 21/03/2009
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