POEMAS PROFANOS: Volúpia descerrada...
Florbela Espanca inicia o soneto «Nervos de oiro» por este quarteto:
Meus nervos, guizos de oiro a tilintar
Cantam-me na alma a estranha sinfonia
Da volúpia, da mágoa e da alegria,
Que me faz rir e que me faz chorar!
Eu, hoje como ontem, sou torre
sineira e pequenina
(sem dúvida não alcanço
nem o dízimo da altura
de um dinossauro normal),
a hospedar crótalos e campainhas:
Umas, monacais, acompanham "misereres",
outras entoam árias a coro e como em orquestra,
algumas, sucessivamente, cantam solos inesperados:
E eu, no meio e meio, perfuro nos desejos
como em biblioteca de mistérios
o pirronismo da volúpia descerrada
ou talvez só a distância da alegria
ou a mágoa que alaga o prazer...