máscara negra
essa sombra em seu olhar
triste e profundo
essa nesga de luz sobre o corpo
desproporcional e impreciso
o cheiro intenso de incenso
palavras segregam dor e sofrimento,
gemidos, grunhidos
ininteligíveis
a dor não tem razão
a dor não tem sentido e,
vai devorando,
carcomendo,
erosivamente tudo.
O tempo passa e o corpo é lixiviado
intensamente
são chuvas, banhos e lágrimas
são surras, sovas e mal-tratos
que vão definhando o rosto,
a rigidez dos músculos,
as pernas bambeiam pelo caminhos
tortos e os
passos ainda bêbedos
da dor insetada no imo
se perdem no abismo ilógico
de cacos.
O olhar caido
e perdido,
sob o manto negro
da máscara.
o olhar querendo saber,
se há felicidade,
se há saída
de emergência,
alguma válvula de escape,
descarga
algo que leve pro ralo
definitivamente
toda essa pesada tristeza.
O rímel escorre sobre a face
escavando caminhos negros de dor
e desalento
Limpo os olhos.
Limpo o rosto
e a tristeza encardida não sai
de minha alma.
está aprisionada numa gaiola chamada
corpo.
está aprisionada definitivamente
no brilho de meus
olhos que faíscam
ainda que encobertos por essa
máscara negra.