Cortejo das Serpentes
Eu vejo além das grades
que me prendem.
Eu vejo do outro lado do muro
o cortejo das serpentes.
Brincam,
Misturam seu veneno...
mas seu mundo é pequeno
e sua cede é a minha.
Salivam para beber
na sua boca apenas
o líquido de erva daninha.
Do que elas precisam eu sei
o que elas querem eu verei...
pois sua cede, seu mundo não mata
no meu mundo terá de buscar
Eu já vivo teu perigo,
nos meus prazeres haverão de encontrar.
Eis minha fraqueza,
um mundo de desejos em incerteza.
Meu medo não é que me tomem
para sua cede matar...
Meu medo é que queiram trocar,
e pelo seu benefício
me beneficiar.
Teu veneno não mata,
transforma,
eis que de mim
teria apenas a forma.
Seus mistérios rastejam pelo
labirinto sem fim,
quando as vejo nenhum anseio
vem a mim...
Quando imagino o que não posso ver
sinto na boca uma ânsia
pelo sabor que venho a desconhecer.
Salivo de beber
para viver...
Salivo de beber
para morrer...