NOTURNO PARA UMA LUZ  (Cantares VIII)




Meu filho nasceu do sol
numa revoada de pombos
entre meu passo incerto e o meio-dia.
Tinha uns grandes olhos verdes,
uma protuberância de espiga sobre a fronte
e nacos de pão nas mãos em concha.
Andava  lento, lento... como um carneirinho
sobre a tarde leve e ia levitando o pensamento.
Deu-me de comer e de beber quando pode
e a ninguém mais, senão a mim, aconchegou-se
quando, cansado, pressentiu o ocaso descendo
e os gritos dos trovões.
Juntos buscamos a região das grandes árvores
para nos abrigar --- como se nossa vida fosse uma só
embaixo daquela grande árvore,
nós sendo seu único e grande fruto.
Nos unimos na noite junto ao jardim,
sem perturbar os pássaros nem as flores.
Nos plantamos um dentro do outro,
e a nuvem cobriu a lua para não perturbar nosso sono.
E na terra fez-se  silêncio de tempo  de paz.
Entre nossas pálpebras  semi-cerradas e o amanhecer
a noite nos fechou entre estrelas.
Brilhamos.
 



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foto:
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Lúcia Constantino
Enviado por Lúcia Constantino em 03/02/2009
Reeditado em 10/02/2009
Código do texto: T1419072
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