Cartas ao lu ar

Primeira carta

Querido desespero

de minhas insânias noites

onde acaba

a face neutra das palavras

múltiplas

querido lu ar?

A estória na finitude do tempo

embala os desejos infinitos

das metáforas?

Para além dos planos

nas estruturas de madeiras

recebi favores do outro universo

ancorado nas mãos

os desaparecidos na memória

que derrubou os castelos medievais

e as revoluções tecnológicas cientificas

destes significantes e significados.

Mas caro lu ar

não sei se receberá esta carta

e na verdade nem me importo

se não chegar os desatinos

do coração se alegra em escrevê-la

as noticias, e o mais recente

é que o abismo voltou a sorrir

no poço do peito

na cavidade que bate os ritmos de despedidas.

Pois caro lu ar

quando olho pro céu

não vejo mais a gravidade

das doenças que paralisam em cicatrizes.

Preciso apenas das estrelas auspiciosas dos astrônomos anônimos

que vêem letras

em vez de planetas e constelações

de palavreado cansado

movimentando pedras celestes no vazio

que nascem as galáxias.

Mas na fabricação do papel para imprimir

qualquer massa cósmica

de nossas pequeninas manifestações diárias

de delírios em rolos de pergaminhos

o esquema de respeito e adoração armado

nestas faces orbitam

os mais altos dignitários das letras.

Então caro lu ar

me diga

tu que sabes tudo não sabendo saber

como o arco-íris tem a cromologia da minha cama?

Este céu tão incolor do borrão de sangue

em tua simplicidade sagital

pobre lu ar alquimista taoísta

no alicerce duma casa foste vista

chorando foste vista sorrindo

sentada e depois abrindo pulos

na janela inventou solidões

nos eventos poéticos supremos

de servilismos de antigos cavaleiros

ignorantes sóis ao objeto da grandeza.

É verdade, caro lu ar

somos todos partes duma síntese

que captura a imaginação,

deserte amando crianças de tua filha

te amei naquilo que amavas

e te odiei quando odiou a tudo.

E quando minha fúria se tornou mais forte

rimou cidadania com poesia

fez-se num flash

o resgate da meninice no inocente silêncio

abandonado o brilho e no breu cupido das horas breves.

Adotei a fecha dos cometas

com dimensões metafóricas

e me espalhei pelo mundo

a procura do ingresso de ouro

no baile mascarado dos corpos celestes.

Lá onde há o elo entre o céu e a terra

a vida e a fome

procuras o alvo, o élan.

Arrancos os cabelos numa técnica de adivinhação

de forças opostas ao universo

fui visto soltando pipas

numa defesa antiaérea.

E nisso estarei contigo pobre lua em silencio

com saudades.

SB Sousa
Enviado por SB Sousa em 22/01/2009
Código do texto: T1397721
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