Lábios Perdidos na Imensidão

Aqueles lábios, quase carnudos

eram uma metáfora da cidade

agora já não mais escura

pois iluminada pelos raios da vida moderna.

Aqueles lábios.

Aqueles lábios nada tinham de anormais

porém traziam em si mistérios, sonhos, sofrimentos, desafios,

e verdades.

De repente, o sinal se abriu

e aqueles lábios transformaram-se numa nova textura

talvez estivessem mais macios, ou quem sabe, menos sensíveis à dor...

...à dor da vida

vinda dos dentes que apertavam,

mesmo mordiam

aqueles lábios.

Mas os dentes não era maus.

Pois o tal ato que praticavam parecia já ser inerente àquele ser

àquele ser, que aqueles lábios possuía...

Dor, sofrimento, vazio, solidão, angústia:

era apenas isso o que a vida podia oferecer

como oferta suprema da própria vida?

Mas o sinal que se abriu para trás ficou...

Quem dera os problemas, os tormentos...

Os lábios?

Ah...os lábios lá se iam

se iam por mais aquela noite, assim como a vida.

E a noite, igual a tantas e tantas noites

ou mesmo igual a todas as possíveis noites,

era apenas o reflexo de noites e noites

frias, sombrias, mesmo que com canções de fundo:

do fundo do carro

não sei se para aliviar pressões

ou se apenas para,

apenas para confortar

ou mesmo reafirmar, quem sabe, tudo o que já era

e sempre foi sabido...por aquele ser...

ser que aqueles lábios apertava

que os possuía.

Uma canção dizia: "estou na contramão"

e o carro, acho, se ia

e a vida ficava?

Estaria ela, a vida, eternamente na contramão?

Iam-se os lábios.

Iam-se todas as verdades.

Que engraçado: novamente, de repente, por algum descuido qualquer

a língua sentiu um pouco de gosto de sangue

vindo de uma leve ferida, sob forma de escamação

mas não como a dos peixes.

Era uma escamação molhada, macia, mole, passível de se mover

para qualquer lado.

Os lábios feridos foram pelos dentes

que, na verdade, talvez nem soubessem o que estavam fazendo

e o porquê.

Talvez eles apenas cumpriam ordens do ser

que aqueles lábios possuía,

recebendo mensagens mentais automáticas

como eram automáticos os movimentos imperfeitos, sabe-se lá,

talvez falsamente imperfeitos

e, quem sabe, até mesmo belos na sua beleza específica

de conduzir aquele carro

não belo

pouco, pouquíssimo moderno

por entre outros tantos e variados carros

carregando ou sendo carregado por aquele ser

com aqueles lábios,

lábios que aquele ser possuía.

Chirlei Maria
Enviado por Chirlei Maria em 29/12/2008
Código do texto: T1357775
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