As crisálidas da maldade
Em silencio chamar os nomes de nossos mortos
reconhecidos pelas circunstancias em que nossos olhos estavam marejados pelas impressões dadas nos depoimentos em longas gerações conservadas no formol e no éter e nos livros ignorantes de como e por que fabricar iguais reações que serão ressarcidas em episódios gratos da memória e dos pleitos de reclamas dos grandes amigos de conversas nos esbarrões de ruas e de telefone e de troca de livros e de troca de discos e de bilhetinhos que consomem horas de vida do outro olhando com ar de susto de nojo no tédio ao espanto falando com convicção em qualquer matéria ingênua de dicionários e das grandes dúvidas que alivia o peso dos ombros e das árvores frondosas e floridas
procurando se alguém o respondesse
e olhasse para trás e sorrisse com o vexame de imaginar ter alguém querido e muito tempo sumido ao dizer que foi embora e nunca mais vai voltar e não acreditamos em tal fato pois sempre voltam depois do mercado e da loja e da visita à vizinha que criou raízes na calçada noturna e dos poemas muito condensados de supérfluo que se fez na ultima viajem de muitas longas horas e que se exige abraços de despedias e pedidos de retorno quando partiu sem casaco e sem roupa sobressalente se é que sentiu frio fome sede se sentiu inquietação com as novas amizades se trará alguma novidade olha querido depois te conto meu cotidiano ta cheio e só te encontro por cartas escritas porque odeio escrever mensagens de redes sociais perde meu tempo para encher a rua de graça apurada com pequeninos jargões decorados num livrinho de bolso que também marca compromissos inadiáveis que na volta trouxe compras e histórias para contar alegre e gentil de ter aplausos e apitos e sirenes de carros coloridos viciados em elogios e plaquetas de palavras bonitas ébrias de energia
mas tudo se faz em silêncio
na trajetória inteira igual quando se perde em alguma gaveta a ultima intimidade nos gestos espontâneos de singularidades com os intensos sins, sins, nãos, nãos carinhosos e carregados de ahãm ahãm gesticulando a cabeça em sinal de afirmação e concordância aos menores segredos nos mais raros beijos e mais discretos diálogos perante muitos desconhecidos com o mais solúvel desdobramento de casos confusos que terminam rápidos e concisos em termos estranhos através de bizarras conceitos representações visuais mágicas palavras fazendo renegar a vida levando para longe qualquer ponto de vista em qualquer vastidão de pedra bonita nos muros das casas com torres imensas com olhar de terra exótica onde nascem os contos fantasmas antes do amanhecer e assistida por uma árvore e por um mar interrogam uma vasta área em onde por um assobio dadaísta não alcança antes de amolecer os queixos as botas e a vida
em silencio somente
passam os dias os desenhos de juventude os bailes de amor as fotos e os poemas de instrumentos musicais com a aparência esquemática de esqueletos velhos corroídos nos sentimentos motores sob a dependência da fome e dos demais estados que despertam mil coisas radiografadas apenas na cabeça e impossíveis de explicar até ao coração do memorável Swedenborg e aos outros corações subnutridos morrendo aos pés de sede fontes e dos doces sentimentos exagerados em damas da noite essas senhoras de má fama de santas aparições aos canalhas virgens e dos anjos de honestidade pasteurizada nas novelas de filmes romanescos de Internet nas esquinas vampirescas dos clubes de forró e nas pernas nuas das vizinhas rodando nos prazeres entorpecidos de roupas gastas que confortam e não esquentam mais
o silencio existe por que a vida é assustadora demais para ser descrita.