A Musa o Muso a Pose
Eu já lhe disse amor
que já tive teu rosto com esses mesmos olhos vazios repletos de silencio indubitável as minhas certezas magras e verdes quase sem corpo e dos demais fiapos dos vestidos ruborizados e esmigalhados pela felicidade das poucas sangrias desdenhadas do coração e das ilusórias formas transladadas maciamente no ar nas frases deslocadas de sentido pelo cansaço da voz nos minguo de saudade transvertidas de tristeza com o inesperado primeiro beijo a primeira conversa distante dos familiares nos cafés de restaurante de ventiladores inúteis e luz de corredores esbaforidos de malicias
é eu disse sim amor
ao teu rosto papelzinho cor de amarelo mãe enervada pela hesitação das vozes despertantes quando se vê um jarrinho de cactos numa comida de festa de todos os dias após as liquidações de fraudas afobadas pela severidade desafiadora das horas das pessoas de ruídos inesperados nos atrasos interrompidos pela alegria de primeiras horas da manhã nas escadas acovardadas de um bem nascido com cheiro de água de colônia nos guardanapos coloridos dos olhares curiosos e despertos com as recordações doloridas e tolhidos em coisas inúteis apesar de divertidas das esposas e dos seus donos de pensamentos tristes sem trégua provocante de medos
para dizer mais de uma vez
que já tive teu rosto com esses mesmos olhos impermeáveis de silêncio e de incertezas com os caminhos que se devem seguir todas as manhãs quando se quer sumir pelo dia inteiro igual as crianças que fecham os olhos com as pequeninas mãos e acreditam que ninguém as vê jorrando alguma fonte oculta de verdade de maldade de ironia de susto aos pequeninos insetos cambaleantes e orgulhosos por não saber para onde ir quando se afasta delicadamente da casa para ninguém ouvir seus passos e esquecer por dois segundos quem é nos bancos de ônibus e na janela sonhando quando ficará sozinho dos medos que perseguem desde os doze anos e dos anos seguintes e sumir nas recordações de liberdade sentidas nos braços de alguém mais forte e nos braços dos desejos fantasmas diluídos pelo ar para não deixar vestígio de culpa nem trazer transformações na alma quando dorme bobamente coberta de contos após o leite quente dos quartos de hotéis de luxos e das lagrimas destemidas do lençol
é amor tudo é sonho em teu paraíso quente