CONTENHA-SE
Abandones a dor. Venhas comigo.
Caçaremos estrelas no inicio da tarde.
Logo ali depois do arco-íris. Reteremos
a esperança em passos largos.
De todas quero uma: a estrela
de maior brilho. Nada de espaços lampejos.
Raios inquietos. Quero a
de maior intensidade de clareza.
E que se diz bela pela sombra que envolve.
Neste sabor inigualável da lembrança
de pernas sadias: correremos
no sentido do arco: À frente
de teu quarto há dois espaços.
Duas tigelas vazias. Um leite ninho.
Saciaremos a fome de um leonino
somente com o sorver da estrela,
sobre o rosnar dos cavalos marinhos.
Mas venha cá. Me dá um abraço.
Ainda não aterrissei ao teu lado.
Estou muito distante do horizonte
de onde parti. Fortuito acaso.
Me pegou pelo enlaço que encontrei
em tua voz. E neste teu simples gesto
inocente do agrado estou tão perdido em mim.
Isolado quando ouço as manhãs.
No sol da tarde. Por favor, alguém
me parta em pedaços minúsculos.
Estourem meu crânio com uma bala perdida.
Queimem minhas têmporas e me desespere na saída.
Por que tens o sabor da primavera em teus lábios?
Quero ir. Agora parto. Enterrem meu coração junto ao rio.
Perto da curva de teus olhos. Na foz.
Lá te espero quando não tiveres pressa.
Olho a manhã. Pérola química
queimando minha retina avermelhada.
Oh saudade daquela música ensolarada
que cantavas antes de adormecer.
O coração em batidas
dormentes. O pulmão em brasa.
Canta a árvore depois do vento.
Essa calmaria foi o meu tormento
selvagem. Minha alma é pérfida
teu corpo dizia. A fala é rude.
O gesto é rápido na insana lembrança.
Mas não diga que não teve aviso
quando esqueceu teu medo.
Encontre teu medo. Vais precisar
para quando encontrares abrigo
ao meu resto de vida num corpo
aos teus pés esfacelado.