Demônios
Pose para uma máquina sem filme em cenário real
Oração sem ação
Ainda assim quem me dera
Respiro porque fundo
Espelho imagem trincada
De cada pedaço faço-me inteiro
Sem meias verdades
Escarafuncho o aninhado canto
Obumbro aborto e abordo minha engrenagem
Emperrada por crispados eões
Fantásticos cruciformes cristalizados
Uso capião desta terra de alguém
Faço minha minhas palavras
Entre letras por entre letras em busca da palavra vaga
que nauseabunda em meio as frases feitas
e deleitas ao amargor de encerrar-me ao que ignoro e por tão pouco imploro
A cada dia que passa cometo suicídios noturnos
ao despertar vivo como se tudo pudesse acontecer
na palma de minha imaginação ao longo desse curto tempo
Sinto ameaça se meus sonhos são apenas sonhos
Sonhados e tardificados no anonimato de quem sou
Tolas são as rosas de plástico
Pleiteiam-se eternas sem o saber do perfume
que as distingue da eternidade
Óh falsa rosa soberba rosa, teu tudo tão pequeno
Nem ao lixo útil serventia possuis
Nem ao menos és pó a ter para onde retornar
De frestas são feitas as sombras da vida
A imitar claridade por onde o equânime
Enverniza a insanidade
De tanto sonhar agora sonho que existo
Isso supus sem ao menos ter-me dado conta do que sou
A cada instante em que olho para o relógio
Lembro-me de meus olhos mortos
A procura de vida em meio ao inexistente
Como se vida perdurasse contida em um discurso eloqüente
É hora de fechar a boca de meus ensurdecidos dedos
A apontar os medos disfarçados de crianças
A brincar sua inocência com o frescor arcaico
De meus vorazes demônios