Demônios

Pose para uma máquina sem filme em cenário real

Oração sem ação

Ainda assim quem me dera

Respiro porque fundo

Espelho imagem trincada

De cada pedaço faço-me inteiro

Sem meias verdades

Escarafuncho o aninhado canto

Obumbro aborto e abordo minha engrenagem

Emperrada por crispados eões

Fantásticos cruciformes cristalizados

Uso capião desta terra de alguém

Faço minha minhas palavras

Entre letras por entre letras em busca da palavra vaga

que nauseabunda em meio as frases feitas

e deleitas ao amargor de encerrar-me ao que ignoro e por tão pouco imploro

A cada dia que passa cometo suicídios noturnos

ao despertar vivo como se tudo pudesse acontecer

na palma de minha imaginação ao longo desse curto tempo

Sinto ameaça se meus sonhos são apenas sonhos

Sonhados e tardificados no anonimato de quem sou

Tolas são as rosas de plástico

Pleiteiam-se eternas sem o saber do perfume

que as distingue da eternidade

Óh falsa rosa soberba rosa, teu tudo tão pequeno

Nem ao lixo útil serventia possuis

Nem ao menos és pó a ter para onde retornar

De frestas são feitas as sombras da vida

A imitar claridade por onde o equânime

Enverniza a insanidade

De tanto sonhar agora sonho que existo

Isso supus sem ao menos ter-me dado conta do que sou

A cada instante em que olho para o relógio

Lembro-me de meus olhos mortos

A procura de vida em meio ao inexistente

Como se vida perdurasse contida em um discurso eloqüente

É hora de fechar a boca de meus ensurdecidos dedos

A apontar os medos disfarçados de crianças

A brincar sua inocência com o frescor arcaico

De meus vorazes demônios

leandro Soriano
Enviado por leandro Soriano em 03/04/2006
Reeditado em 03/04/2006
Código do texto: T132817