CORAZÓN

Eu tento explicar

o inevitável

e escrevo

Como guardarei

todos os meus sabores

e sorrisos

Toda a velocidade

em dizer coisas bobas

Em um cálice

que não se bebe sozinha

Em íris embriagada

de sal

Pressentimentos

entre a partida

e a chegada

Sabores desconhecidos

que me atropelam

os sentidos

A liberdade parece

uma palavra bonita

inventada

Já as borboletas

são bons presságios

no estômago

E venenos

não se curam

com venenos

O antídoto de Eros

é Psiquê

Algo se findou

ou se transforma

Um novo ciclo

que leva marcas

Quisera eu

fossem marcas de bocas

Mas é uma história possível

e outra realizada

Tudo é mutável

não se determina

o romper de um casulo

Amo a dança

entre verbos e coisas

Bebo os verbos

em um gole só

E muitas coisas

eu desconheço

O que tem

que ser visto

não nos enxerga

Mas nem toda

a metáfora

se perde

Mãos paralelas

e sem um corpo

É o que me resta

Atenção e cuidados

em porcelana

Constroem-se mundo

em poucos dias

Enfeitam-se estes

em poucas horas

E em poucos cacos

eles nos restam

Paris, 2008

Iva Tai
Enviado por Iva Tai em 05/12/2008
Reeditado em 08/12/2008
Código do texto: T1319752
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