CROMO
Na parede impessoal
de um consultório médico
sinto a vida escorrer
por um riacho manso
Na tosca ponte de madeira
vai pela clareira do bosque
uma frágil carroça atrelada
a um jumento castanho
Obedece ao homem de chapéu
ladeado por duas crianças
de faces coradas risonhas
No coração da mata verde
esconde-se uma casinha branca
coberta por telhado vermelho
e misteriosas janelas azuis
Do outro lado do riacho
uma camponesa tange
a sua cabra malhada
Que teima em mastigar
bocados da relva úmida
enquanto o sol nascente
desponta entre as nuvens
Vara os ramos de árvores
à procura da limpidez
das águas frias do riacho
Como num passe de mágica
piso na relva encharcada
pelo orvalho da madrugada
Sou a mulher camponesa
tanjo minha cabra malhada
atravesso a ponte a cantar
Retribuo ao beijo do homem
afago as lindas crianças
com eles sobre a carroça
vou aonde me levarem
Debruço-me nas águas
serenas do riacho manso
preciso ver os peixinhos
prateados e saltitantes.
MCC Pazzola