Brotar e embotar

Vem andar, correr,

Beijar e abraçar

Amar, dizer, sonhar

Até poder,

Não poder mais,

Estar e respirar

Aterrissar, e então voar

E dobrar, embaular

Abarrotar e me amarrotar

E me amassar

Até saber, não saber

Que sabe mais

Que sabe nada de nada e está

A esmagar e me arruinar

E a pesar, apesar

Do que não tem mais que pecar

E peca, pega, empaca, paga

E paga nada, nada mais que tem que pecar

E então pagar.

E sufocar, até prensar

E apreender e recomeçar, a andar

Depois correr e até sangrar

E entender para chorar

E até sorrir e te acordar

E dormir

Para amar

E entorpecer e estontear

Inebriar e embotar

Entrevar

E até sofrer, e até voltar

A sangrar

Aí viver e compensar

O não-viver de açoitar

O anoitecer, despertar

E reforçar o madrugar

E sonhar, e não sonhar

Planejar o amanhã

E recomeçar, a andar

A correr, até arquear, arquejar

Harpejar e bater

Até colidir e aceitar, e brigar

E estapear, maldizer,

Reerguer, arpejar

E compreender o poetizar

E dizer e olhar

Escrever e então notar

O que é viver, se doar

E amar

E até fraternizar

Conviver, conhecer

E harmonizar, serenar

E voltar a combater, acirrar

E assassinar, esfolar

E aí amenizar, mendigar

Até poder pernoitar, e passar

E refletir até chegar

A reflejar e flertar

E a sentir como andar e cair,

E levantar

E então se descadeirar

E curvar, se ajoelhar

Para entoar, proferir

E cantar

E o dia versificar

E endiabrar, avermelhar

E corar, e cobrir

E quando de novo anoitecer

Esperar, o dia nascer

E olhar, e voltar

A andar, a correr,

A voar e embaular,

Arquejar, arpejar, arquear

E então viver, e sofrer,

E amar,

Até morrer e apagar.

Joao L Terrezo
Enviado por Joao L Terrezo em 30/11/2008
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