Brotar e embotar
Vem andar, correr,
Beijar e abraçar
Amar, dizer, sonhar
Até poder,
Não poder mais,
Estar e respirar
Aterrissar, e então voar
E dobrar, embaular
Abarrotar e me amarrotar
E me amassar
Até saber, não saber
Que sabe mais
Que sabe nada de nada e está
A esmagar e me arruinar
E a pesar, apesar
Do que não tem mais que pecar
E peca, pega, empaca, paga
E paga nada, nada mais que tem que pecar
E então pagar.
E sufocar, até prensar
E apreender e recomeçar, a andar
Depois correr e até sangrar
E entender para chorar
E até sorrir e te acordar
E dormir
Para amar
E entorpecer e estontear
Inebriar e embotar
Entrevar
E até sofrer, e até voltar
A sangrar
Aí viver e compensar
O não-viver de açoitar
O anoitecer, despertar
E reforçar o madrugar
E sonhar, e não sonhar
Planejar o amanhã
E recomeçar, a andar
A correr, até arquear, arquejar
Harpejar e bater
Até colidir e aceitar, e brigar
E estapear, maldizer,
Reerguer, arpejar
E compreender o poetizar
E dizer e olhar
Escrever e então notar
O que é viver, se doar
E amar
E até fraternizar
Conviver, conhecer
E harmonizar, serenar
E voltar a combater, acirrar
E assassinar, esfolar
E aí amenizar, mendigar
Até poder pernoitar, e passar
E refletir até chegar
A reflejar e flertar
E a sentir como andar e cair,
E levantar
E então se descadeirar
E curvar, se ajoelhar
Para entoar, proferir
E cantar
E o dia versificar
E endiabrar, avermelhar
E corar, e cobrir
E quando de novo anoitecer
Esperar, o dia nascer
E olhar, e voltar
A andar, a correr,
A voar e embaular,
Arquejar, arpejar, arquear
E então viver, e sofrer,
E amar,
Até morrer e apagar.