Cá Estou Eu De Novo
E cá estou eu de novo
a pensar no que fiz
e no que não fiz.
Que ocupação,
parar pra ponderar
sobre o feito e o não feito.
Percurso austero de flores cheirosas,
de peles, de pétalas de rosas.
Caminho que leva para um labirinto,
tal que não tem fim,
tal que se perde em si,
pois é feito de nuvens
e só encontra pouso
na minha cabeça...
E cá estou eu de novo,
a deixar a porta aberta
pra sandice entrar,
como me faria bem
uma ajuda machadiana
pra revolver a loucura.
Que razão se achegará
pra tentar me iluminar,
se na frente da porta o desvario está?
Sorte se apercebe
e domestica-me os modos, os gostos,
os gestos e os afins.
E cá estou eu de novo
a ponderar sobre mim.
Só o vento
que se atreve a mexer nos meus cabelos,
só o tempo confia na minha espera.
Queria eu que a vida
fosse um mar de rosas,
com cascatas de mel,
com chuva de arco-íris.
E cá estou eu de novo
a olhar no espelho
a imagem matéria
que se forma diante dos meus olhos.
E tentando ver
se enxergo o que o espelho não consegue refletir.
O que de modo algum a aparência não consegue mentir.