tem dias
Já disse o poeta:
“tem dias que a gente se sente
como quem partiu ou morreu”
:
tem dia que a gente se sente
uma navalha fina
ou tridente
a espetar o mundo, a incomodar a flor
com espinhos
a transgredir a cor com os escuros,
com as janelas fechadas
com portas trancadas a chave, a cadeado,
por correntes de escravidão
e medo
é percorrer as cegas
o corredor do degredo.
tem dias que a gente se sente
ausente,
reticente
um pingo de gente
um pingo de
verme
um pingo de gota indecente
a denunciar nos fraquezas
a transpirar nossa essência
a nos trair em tédio e aspereza
tem dias que são noites
que são trevas ensolaradas a
bafejar orvalhos colhidos
de flores que choram
a primavera abortada
tem dias que nascem do avesso,
do sereno secreto das madrugadas,
das nuvens eclipsadas do horizonte
repletas de dúvidas,
divagações e
angústias pregadas
nas naus perdidas.
Tem dias que só encontra você
Faz o dia
ser presente.