o pára-brisa

carro velho e ultrapassado

mas nem tanto

porque pode ainda ser comprado

por um bom preço

o apreço pela chuva

que começa a ficar intensa

com o carro andando na rua

limpador do pára-brisa girando

e o seu impacto lateral

/negro-assassi-no

negro-assassi-no

negro-assassi-no

negro-assassi-no/

parada no sinal com pardal

o vidro quase embaçado

porque não há ar condicionado

/negro-assassi-no

negro-assassi-no

negro-assassi-no/

abre o sinal

carro retoma a marcha

chuva diminui um pouco

barulho no pára-brisa mais rouco

/negro-essa-semana

negro-essa-semana

negro-essa-semana

negro-essa semana/

o vidro começa a secar

desliga o limpador

lembra que não tem havido

muitos crimes assim

trafega na orla, mas vira

antes de chegar o fim

chuva mais forte de novo

/negro-assassi-no

negro-assassi-no

negro-assassi-no/

percebe que não tem um negro

na calçada, no metro quadrado mais caro

da cidade, pensa em fazer caridade

comprar uma bala quando parar de novo

pensa no que fazem com o povo

e em ter que comprar o jornal

Rio, 07/08/2008

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 31/08/2008
Código do texto: T1155649
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