Oferenda
Fareja-me o lobo faminto
A roçar-me o áspero pelo
Escuro que não vejo
Traiçoeiro
No olho quase âmbar
De macio cordeiro
A lamber-me corpo inteiro
Com boca de fera, mormaço
Em eflúvios de absinto
Saboreando o puro sal
Da carne tenra e crua
Eu, oferenda nua
Estendida no terraço
Braços em cruz
Embriagada consinto
O profano sacrifício
Mas brilha-me a flor
Centelhas de intensa Luz
Meus fogos sem artifício
Fazendo contorcer-se o animal
Em suas entranhas ansiosas
Pois sem disfarces é o instinto
Da ovelha enlouquecida que uiva
Presas clamando à curva da Lua
Que fulmina a besta covarde
Alma de lobo encarnada em cordeiro
E a mim, banquete sem defesa
Estrelas se entregam, líquidas
Despejando o fluido universal
Vestem-me o manto das nebulosas
E liberta do transe, afinal
Reverencio a bondade infinita
Crendo ainda - leve - no amor divinal
Cósmico, sim. Aquele imortal.
Claudia Gadini
17/02/06