A solidão do ser

Poesia on line. Mote de 12.08.2008 proposto por Ronaldo Rhusso:

"FICAR OU NÃO DE FORA TRAZ QUE TIPO DE COMPROMETIMENTO OU FALTA DESSE EM RELAÇÃO À SOCIEDADE?" (*)

A solidão do ser

Maria Quitéria

Doar-se, é ficar aberto e deixar-se,

é livrar-se do peso do ser em existência

carregando um outro fardo, ao livrar-se,

do outro que já faz parte em consciência.

Engajar-se, é unir-se em outra parte

aceitando os riscos que a vida demanda,

é preciso ser artista convicto nessa arte;

subdividindo-se enquanto se anda.

E você se torna tantos e é tanto peso

que a solidão de tudo deixa um gosto doce,

enquanto suas asas acolhem, voa leve e teso,

como se um grande pássaro fosse.

O que se dá, se presenteia e retorna em dobro,

é o ciclo que a vida impõe sem nenhum veto;

fazer parte, integrando-se, é como o sopro

do Divino que o faz, de novo, voltar feto.

Sampa, 12.08.2008 11:01hs

(*)Ontem recebi umas linhas de Claiton Scherer com a música de Alceu Valença como mote para uma poesia. Hoje o mote on line andou pelas linhas de Kundera e na leveza do ser e na opressão do ser. Então uni as duas, por dizerem a mesma coisa.

"A solidão é fera, a solidão devora

É amiga das horas, prima-irmã do tempo

E faz nossos relógios caminharem lentos

Causando um descompasso no meu coração

A solidão dos astros

A solidão da lua

A solidão da noite

A solidão da rua"

(Alceu Valença)

"O peso do comprometimento é uma âncora que finca a vida à uma razão de ser, qualquer, que se constrói - sob uma perspectiva existencialista, evidentemente. Sob a perspectiva da filosofia nietzscheana, porém, Tomas levava uma vida autêntica, construindo os próprios valores sob os quais conduzia sua vida. Teresa ilustra a problemática da moralidade de escravos: incapaz de realizar um empreendimento como o de Tomas, amarra-o pela força de sua impotência, chegando ao final à admissão do fato de ter "destruído sua vida", no final do livro. Tomás, encarnando metaforicamente a noção nietzscheana de amor fati, revela que não se arrepende de nada, remetendo à doutrina do Eterno Retorno, mencionada no início do livro."

(Milan Kundera)