CÂNTICO MUDO

“Descubro a lembrança das vozes.

São lembranças da tarde, as livres e caseiras

Vozes tão remotas.

São vozes de conselho.

Pausas na minha dor.”

- Mando Aravandinou

Tempo possuído.

As personagens se desfocam.

Meu olhar é curvo, corvo,

modo genuíno de apreender

uma realidade dolorosa.

Graves personagens na doçura da tarde

saem dos espelhos.

Um arremesso patético de águas

sobre os olhos. Os cristais devassados,

infiltram-se em espectros de silêncios.

O verde me chega, mendigo.

Mumificadas flores sorriem na moldura exposta.

Silenciosamente submerjo,

a cabeça presa

entre as costumeiras brumas.

Tento, para me esquecer,

retificar o pensamento.

As vozes dentro dele

são o que me resta de sol.

Lúcia Constantino
Enviado por Lúcia Constantino em 25/07/2008
Reeditado em 18/01/2009
Código do texto: T1096996
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