Ensaio poético sobre Salvador Dalí

Segue abaixo um ensaio poético surrealista sobre algumas obras de Salvador Dalí. Através da visualização de suas obras, escrevi o que a imagem me inspirava.

Girafa em chamas

Quantos sentimentos cabem em mim?

Quantas verdades sou capaz de suportar?

Meus sonhos que são tantos transbordam pelos meus poros

Minhas lembranças espalhadas pelo meu corpo todo

Seguro em minhas mãos meu coração cheio de cicatrizes

E a girafa está em chamas

E o céu tão azul apenas observa o que está abaixo de si.

O Jogo Lúgubre

Nove miligramas é o peso da saudade que sinto por você

Dezoito centigramas de arrependimento pelo que fiz

Vinte e sete gramas de desejo de não te querer de volta.

Estendo as minhas mãos para que a vida me leve

Pois já não caminho só, castraram-me os sonhos e os direitos

Fecho meus olhos para me deixar levar pelo vento que sopra

Fumo uma cigarra e dos meus olhos saem fragmentos espectrais

Minha imaginação ganha vida, mais vida que a mão que me toca

Um homem barbado, uma jovem moça, taça, guarda-chuva se fundem

E me confundem fazendo rir o homem que tudo vê enquanto se sangra.

Persistência da Memória

Quanto tempo desperdiçado

Jogado fora pela privada

Horas e minutos por água abaixo

Tiro meu relógio, deixo-o descansar

Ele está suando de tanto marcar

Sempre a mesma hora

Já conhece os meus atrasos

Seu suor escorre a cada segundo

E eu sem tempo até pra lembrar

Que a cada momento minha memória

Persistente em querer mostrar

Que o tempo não muda, mas sim ele que me muda.

O Cavaleiro da Morte

Caminha ao meu lado

Não a vejo

Ele me vê

Está num possível atropelamento

Está numa bala de revólver

Está num desejo de suicídio

Mas isso passa longe

Passa perto

Às vezes perto demais

Não sou presa fácil

Tenta me levar

Mas seu cavalo manco não me alcança

Tão morto quanto você

Sou vivo e você eternamente morto.

O Gabinete Antropomórfico

Até quando vão me encher de palavras

São tantas informações, conhecimentos, regras

Chega! Sinto que ignoro o essencial

Deixando de lado o que é necessário para viver

Não sou um armário onde se guarda coisas

Sou muitos números, cada qual me diz quem sou

Logo meu nome estará fora deste Planeta

Estrelas e cometas saberão pra quem devo e quem me deve

Já basta! Não me venham com outra descoberta

Esvazio minhas gavetas, esvazio meu ser

Para recomeçar guardando aquilo que realmente me faz viver.

27/05/08

Miguel Rodrigues
Enviado por Miguel Rodrigues em 27/05/2008
Reeditado em 01/06/2008
Código do texto: T1007369
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